quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Yasunari Kawabata «Mil Grous»




Tendo como pano de fundo uma cerimónia de chá, Mil Grous - Senbazuru no original – é um dos expoentes mais simbólicos daquilo que é o declínio da cultura, mentalidade e costumes japoneses tradicionais, especialmente no pós-II Guerra Mundial e consequente ocidentalização do “país dos Samurais”.

Publicado em 1958, a escrita de Mil Grous é extremamente acessível, o mesmo não se podendo dizer acerca do seu verdadeiro significado e a metáfora que um aparentemente simples convite para tomar chá tem para um japonês e que a nós, ocidentais, nos escapa. A Custa-nos a entender o porquê de os nipónicos levarem – demasiado – a sério a questão da honra, o porquê de cometerem “sepukku” – suicídio estilo Samurai, que consiste no esventramento com uma lâmina – e neste caso toda a graciosidade e sensibilidade resultante do ritual de beber uma chávena de chá.

A estória deste romance passa-se, como já referido, no período que o Japão se vê assaltado pelo domínio ocidental, e centra-se em Kikuji, convidado especial para a “chanoyu” – cerimónia de beber chá – de Chikako, uma mulher que foi amante do seu falecido pai. Na casa de Chikako, Kikuji reencontra uma outra ex-amante do seu pai, a senhora Ota na companhia da sua jovem filha Fumiko, acabando por conhecer a menina Yukiko, estudante de Chikako. Esta, a personagem simbolizante de todo o veneno e declínio dos valores tradicionais japoneses, pretende casar Kikuji com Yukiko, que se vê envolvido numa relação com a senhora Ota.

Mil Grous desenrola-se através de um misto solenidade, respeito e costumes, acentuados pelo forte efeito imagético que a escrita de Kawabata sugere – vencedor do Prémio Nobel da Literatura, em 1968 – com uma carga emocional invulgar. Dito isto, convém referir que Terra de Neve – visto por muitos como o melhor romance de Kawabata - revelou-se-me uma experiência de maior prazer.

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