Tendo como pano de fundo uma cerimónia de chá, Mil Grous - Senbazuru no original – é um dos expoentes mais simbólicos daquilo que é o declínio da cultura, mentalidade e costumes japoneses tradicionais, especialmente no pós-II Guerra Mundial e consequente ocidentalização do “país dos Samurais”.
Publicado em 1958, a escrita de Mil Grous é extremamente acessível, o mesmo
não se podendo dizer acerca do seu verdadeiro significado e a metáfora que um
aparentemente simples convite para tomar chá tem para um japonês e que a nós,
ocidentais, nos escapa. A Custa-nos a entender o porquê de os nipónicos levarem
– demasiado – a sério a questão da honra, o porquê de cometerem “sepukku” –
suicídio estilo Samurai, que consiste no esventramento com uma lâmina – e neste
caso toda a graciosidade e sensibilidade resultante do ritual de beber uma
chávena de chá.
A estória deste romance passa-se,
como já referido, no período que o Japão se vê assaltado pelo domínio ocidental,
e centra-se em Kikuji, convidado especial para a “chanoyu” – cerimónia de beber
chá – de Chikako, uma mulher que foi amante do seu falecido pai. Na casa de
Chikako, Kikuji reencontra uma outra ex-amante do seu pai, a senhora Ota na
companhia da sua jovem filha Fumiko, acabando por conhecer a menina Yukiko, estudante
de Chikako. Esta, a personagem simbolizante de todo o veneno e declínio dos
valores tradicionais japoneses, pretende casar Kikuji com Yukiko, que se vê
envolvido numa relação com a senhora Ota.
Mil Grous desenrola-se através de um misto solenidade, respeito e costumes,
acentuados pelo forte efeito imagético que a escrita de Kawabata sugere –
vencedor do Prémio Nobel da Literatura, em 1968 – com uma carga emocional
invulgar. Dito isto, convém referir que Terra de Neve – visto por muitos como o melhor romance de Kawabata - revelou-se-me
uma experiência de maior prazer.
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