sexta-feira, 14 de junho de 2013

Michael Cunningham «As Horas»



Baseado no romance Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, As Horas é uma singela e sincronizada forma de contar a vida de três mulheres que, sem o saberem, vivem vidas semelhantes e interligadas. Michael Cunningham, vencedor do Prémio Pullitzer (1999) graças a esta obra, recria a existência de Virginia Woolf no momento em que esta se encontrava a escrever Mrs. Dalloway, por volta de 1923, mantendo-se maioritariamente fiel à vida de Woolf, estabelecendo uma ponte de ligação a Mrs. Brown e Mrs. Dalloway; estas três senhoras combatem a angústia interior e tentam encontrar o seu verdadeiro papel na sociedade.

Escrito por capítulos alternados entre as três mulheres, todo o livro gira à volta desta luta que as intervenientes travam: Woolf luta por escrever bons romances e controlar os impulsos suicidas; Mrs. Brown, uma típica dona de casa norte-americana, finge ser feliz num casamento pós-segunda guerra mundial, Mrs. Dalloway, aparentemente a mais feliz das três senhoras, é uma lésbica nova-iorquina que tenta organizar uma festa para o seu amigo Richard – que lhe pôs a alcunha de Mrs. Dalloway -, um poeta nos seus últimos dias de vida, vítima de Sida. 

A liberdade sexual da homossexualidade das três protagonistas é outro dos pontos-chave da obra. Para além do tédio que Woolf sente ao viver no campo, afastada do ambiente de Londres, a sua vida muda quando beija outra mulher, sentindo-se mais “viva”, por assim dizer, mais realizada interiormente, portanto; Mrs. Brown sente o mesmo quando beija uma amiga e se apercebe de que nunca será feliz a cozinhar bacon para o filho e marido às 7h da manhã; Mrs. Dalloway, de seu verdadeiro nome Clarissa, como referido é lésbica - partilha habitação com a sua companheira Sally - é extremamente culta, ligada às artes e Literatura e toma conta do ex-parceiro Richard. Creio haver aqui uma afirmação crescente entre os três períodos em que as protagonistas vivem em termos de sexualidade, cimentando-se em Mrs. Dalloway. 

As Horas retrata bem a ausência de realização pessoal e consequente desequilíbrio emocional de três gerações de mulheres distintas, porém interrelacionadas, explorando ao mesmo tempo a questão da homossexualidade É também, pois claro, um tributo a Virginia Woolf.

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