sábado, 16 de fevereiro de 2013

Mikhail Bulgakov «Margarita e o Mestre»



Se Satanás existisse, ele seria um professor mestre em magia negra, teria a companhia de um gato que caminha em duas patas e de capangas desdentados com poderes sobrenaturais. Satanás visitaria a União Soviética de Stalin dos anos 30, tomaria de assalto os teatros e centros culturais de Moscovo e era rapazinho para meter os maiores génios da cultura em instituições psiquiátricas.

Era bem capaz.

Paralelamente, Pôncio Pilatos recebe a vinda de Jesus Cristo na Judeia, estabelece uma estranha relação de empatia com o profeta, mas sentenceia este à morte na cruz. Bizarro? É assim o mundo de Margarita e o Mestre, um romance fustigado pela censura stalinista.

Margarita e o Mestre foi escrito entre 1928 e 1940 por Bulgakov, embora a esposa deste o tenha terminado em 1941, um ano após a morte do seu marido, e conta-nos precisamente aquilo que acabou de ler algumas linhas atrás: Woland, o misterioso Professor estrangeiro, presta uma visita à Moscovo do século XIX, em pleno auge da ditadura comunista, para semear o caos e destruição na sociedade russa. Woland é aqui Satanás, o príncipe das trevas imortal que poderá muito bem ser o próprio Stalin: a sua função é infligir o terror e castrar a cultura na Rússia. Woland não só manipula os grandes teatros de Moscovo, como também enlouquece os grandes escritores e artistas russos rumo aos hospícios.

O romance está dividido em duas partes distintas: na primeira temos Woland e Moscovo da actualidade, na segunda Jesus Cristo e Pôncio Pilatos da Judeia aquando da vinda do profeta cristão; a narrativa desenvolve-se sensivelmente em um capítulo na actualidade moscovita e outro na Judeia. Creio que a mensagem principal de Mikhail Bulgakov está na comparação metafórica e extremamente hilariante do Stalinismo com o Satanismo. Ao lermos o romance compreendemos que os capítulos de Woland são, como referido, sarcásticos e decorrem a um ritmo muito acelerado para oferecer ao leitor uma sensação de desordem e mal, enquanto que os de Jesus Cristo são descritos numa toada lenta, séria e aparentemente factual - apesar de se identificar com alguma doutrina cristã, Bulgakov não era cristão, ao contrário de Dostoyevsky, por exemplo; o romance foi alvo de perseguição e censura pela própria comunidade cristão russa.  

Margarita e o Mestre é um romance sarcástico muito interessante que facilmente se insere na grande obra literária russa sem no entanto se tornar tão apelativo como, por exemplo, os escritos de Dostoyevsky. Isto, frise-se, sem qualquer tipo de comparação.

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