terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Anthony Burgess «A Clockwork Orange»



A grande vantagem de se ler o livro antes de se ver o filme prende-se não só com a possibilidade de o próprio leitor se tornar o realizador, mas também com o facto de que geralmente o filme é incompleto, comparativamente com o romance. E porquê? Um filme parte da interpretação que o realizador fez da obra. Ora, Stanley Kubrick levou a cabo uma grande adaptação deste romance de Anthony Burgess, no entanto o cineasta ter-se-á esquecido do último capítulo do romance: a versão publicada nos Estados Unidos omitiu o último capítulo do romance, lamentavelmente, e foi a partir dessa edição que o cineasta se baseou.

A Clockwork Orange é um grande clássico da Literatura moderna do século passado. Tal como em Nineteen Eighty-Four (George Orwell) e Brave New World (Aldous Huxley), este livro tem como cenário um mundo pós-industrial dominado por governos totalitários opressores, onde a violência é rainha e senhora, e a liberdade de expressão simplesmente não abunda. Inserido num clima de guerra fria, publicado em 1962, A Clockwork Orange passa-se num país europeu – presumivelmente o Reino Unido – por volta de 1972 e conta-nos a estória de Alex, um hooligan de 15 anos, que após ter cometido várias violações, agressões e inclusive assassinato, é preso e submetido a um tratamento de lavagem cerebral.

Um dos aspectos que torna este livro incrivelmente atractivo e de certa forma joyciano, está no idioma especial que Burgess inventou: o nadsat; este idioma resulta da mistura de russo, polaco e inglês e é o idioma calão que os adolescentes usam. A edição da Penguin não inclui o significado deste estranho vocabulário, mas basta escrever “nadsat” no Google para obter páginas de conversão de nadsat para inglês. Ao início torna-se complicado compreender que “slooshy” significa “ouvir”, ou que “gulliver” é “cabeça”, mas é um desafio que ao fim de algumas páginas se torna enriquecedor, acredite. Voltando a Alex, cujo nome vem do latino “a-lex”e significa “sem lei”, temos um adolescente completamente virado para a ultra violência e desrespeito pelas regras sociais, e temos também um indivíduo devoto a Bach e Beethoven, sobretudo este último: a 9ª Sinfonia é o tema favorito deste rufia. Após violar a matar uma mulher, e traído pelo seu gangue, Alex é enviado para a prisão, onde é depois submetido a um tratamento de lavagem cerebral anti-violência.

A mensagem principal de Burgess consiste na liberdade de escolha que todos nós temos o direito de fazer. Percebe-se que a obra transmite a ideia de que se calhar é melhor um ser humano mau do que ser condicionado a ser bom - ainda assim, Burgess lamentou o facto de que o romance tenha sido mal interpretado pelos críticos e media conservadora. A mensagem secundária, a meu ver, prende-se com o cuidado que temos que ter com os governos que elegemos e o poder que lhes damos enquanto cidadãos. Até que ponto é preferível sermos observados e controlados? – de qualquer das formas, A Clockwork Orange não é tão extremista quanto George Orwell.

A adaptação de Stanley Kubrick é algo que só pode ser totalmente compreendido com a leitura desta ímpar, ímpar obra. 

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

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