quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ismail Kadaré «Abril Despedaçado»


Abril Despedaçado é um romance daqueles livros invulgarmente deslocados da esfera temporal e das habituais temáticas abordadas no romance contemporâneo. Ismail Kadaré é um escritor albanês que apesar de viver em França, mantém-se ligado ao seu país natal, abordando assim várias questões relacionadas com a terra que o viu crescer. 

Esta obra tem por cenário a região dos Mirdites, na Albânia, onde impera a lei sagrada do Kanun há vários séculos; este Kanun é um conjunto de regras sócio-morais pelas quais a população se rege, incluindo matar alguém para recuperar a honra e o respeito da comunidade. Assim, Gjorg tem que matar o assassino do seu irmão para repor a justiça e esperar que a família do assassino – uma vez morto, passa obviamente a vítima – o mate. Este ciclo de vingança entre as duas famílias dura há décadas e vai continuar desta forma até que alguém decida quebrar as regras sagradas. Mas quem o fará? Estas leis existem há tanto tempo e são tão importantes que as próprias autoridades e governo albanês se demarcam das mesmas. Puro sangue por sangue bárbaro.

Paralelamente, estes rituais são observados e analisados por Bessian Vorpsi, um escritor, e a sua jovem esposa Diana. O casal desloca-se até ao coração do Kanun para compreender melhor o modo como a população se comporta em época de vingança, mas é Diana quem tem mais dificuldades em assimilar estes estranhos costumes; Bessian, que já conhecia um pouco da região e do Kanun, consegue explicar algumas coisas à sua esposa, mas até ele se deixa maravilhar e hipnotizar pela invulgaridade das cerimónias que decorrem naquela região isolada.

Abril Despedaçado apresenta-se escrito de formas simples e sugere a contemplação das descrições que o autor pinta, remetendo o leitor para o fascínio do Kanun e os costumes do seu país natal. No entanto, o livro revelou-se-me incrivelmente aborrecido e repetitivo, muito devido à tensão e aparente serenidade que reina nos Mirdites; o romance desmotiva tanto que fiquei sem interesse em explorar a extensa obra de Kadaré.

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