sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sigur Rós «Valtari»


Descrever o primeiro contacto com Ágætis Byrjun é como recordar os melhores momentos da minha infância, entre outras coisas divertidas. O montão de gelados que comi quando estive internado no hospital e as subsequentes prendinhas, o primeiro mergulho no mar e os dois litros de água engolidos, a primeira vez que nadei sem ir ao fundo, aquela vez em que, a primeira vez que aprendi a tabuada, aquela vez em que nevou cá e a professora não me deixou ir brincar na neve, o primeiro gato, a primeira consola de vídeo jogos – obrigado por tudo, Super Mario

Incorrer na beleza e magia do segundo disco destes islandeses obrigar-me-ia a ficar aqui a escrever um testamento, sem qualquer exagero. Svefn-g-englar, Sæglópur, Glósóli, Festival e Ný Batterí são alguns dos imponentes e delicados temas dos Sigur Rós, mas nenhum deles, creio eu, suplanta o sonho/viagem de Olsen Olsen. Apesar de os gostos serem sempre uma questão relativa, Olsen Olsen tem a melodia, melancolia, crescendo, emoção, tristeza, alegria e positivismo que qualquer grande tema épico deve ter, um mergulho no nosso ser. Takk e Sigur Rós (ou ()) revelaram uma sonoridade ligeiramente diferente, ainda que com várias semelhanças ao segundo disco e já quase nenhuma com o primeiro, que viria metamorfosear-se naquele que assinalou um modo de compor mais pop/rock e uma maior exposição na comunicação social, Með suð í eyrum við spilum endalaust, um disco que deixou os fãs um pouco de pés atrás.

Valtari significa “rolo compressor”, mas está longe de ser uma máquina de construção capaz de arrasar com tudo; não, Valtari é um disco que transborda de introspecção, luz e energia em excesso, quebrando muito com os elementos que faziam da banda um grupo multifacetado e sui generis em todos os aspectos. Falta aqui a melancolia e a escuridão, essencialmente, mas a ausência da percussão chega a ser asfixiante em vários períodos da obra, e um bom exemplo disso é o tema Dauðalogn, talvez o mais introspectivo dos 55 minutos da rodela. A introspecção faz-se sentir em quase todo o disco, e há mais que um tema sem vozes, no entanto naqueles que são cantados e apresentam demasiada melodia, e onde também só aqueles que falam islandês compreendem as palavras de Jón Þór Birgissonsor, é claro que uma bateria e um baixo pomposos encaixavam que nem uma luva; de facto, seria injusto menosprezar o esforço que a banda teve ao escolher compor desta forma, já para não falar na ousadia de se cantar num idioma que poucos ou nenhuns reconhecem fora da Islândia, mas a percussão é um dos elementos de marca do grupo.

Os falsettos nas vozes e os órgãos também teimam em abundar por estes lados, enfraquecendo uma experiência que se queria mais enriquecedora. Talvez estejam a ser vítimas da sua própria fama e criatividade, mas a verdade é que os Sigur Rós de Valtari são diferentes dos de Ágætis Byrjun. E não para melhor.

6/10

domingo, 24 de junho de 2012

Andrés Neuman «O Viajante do Século»


Algures na Alemanha existe um jovem viajante de hábitos nómadas que se instala em Wandernburgo, uma cidade imaginária localizada entre Dessau e Berlim. Hans, a personagem central deste romance, apaixona-se por esta cidade especial habitada por cidadãos invulgares e apaixonados pelas artes. Há também um velho educado e erudito que toca realejo nas ruas.

Foi graças a este espaço imaginário alemão que o argentino Andrés Neuman venceu o Prémio Alfaguara de 2009, um romance que decorre no séc. XIX dedicado à literatura, poesia, filosofia, artes e pintura, onde são debatidas questões sobre a política e a questão da Europa enquanto continente potência e as guerras subjacentes entre a Prússia e França. Há também uma história de amor à antiga entre Hans, um tradutor fluente em vários idiomas, e Sophie Gottlieb, uma jovem comprometida a casar com Rudi Wilderhaus, oriundo das famílias nobres da região. Neste aspecto, O Viajante do Século segue os trâmites obrigatórios do romance tradicional: Hans e Sophie trocam cartas entre si através de criados, encontram-se às escondidas, fazem amor e vivem uma relação proibida. 

Esta típica relação tende, por vezes, a alongar-se em demasia e fica a clara sensação de que Neuman poderia ter encurtado em um terço esta narrativa amorosa, pelo simples motivo de que é clássica em todos os aspectos. Mas adiante. O ponto alto da obra reside, sem dúvida, nas reuniões e debates intelectuais que decorrem na casa Gottlieb entre algumas das pessoas mais importantes da sociedade wandenrburguesa, entre os quais um espanhol exilado, Álvaro, o Sr. Gottlieb, Rudi Wilderhaus e o Professor Mietter. Álvaro e Hans – por vezes auxiliados pela prórpia Sophie - são os dois das ideias modernistas e colectivas, ao passo que o conservadorismo e nacionalismo exacerbado são representados principalmente pelo Prof. Mietter. Nestas reuniões são declamados também poemas e encenadas peças de teatro entre todos, aumentando ainda mais a tensão entre as divergências político-filosóficas.

Entretanto, Sophie e Hans decidem começar a trabalhar em conjunto nas traduções de grandes poetas e romancistas europeus e americanos, conduzindo ao mal-estar e reprovação de quase todos os que rodeiam a vida entre uma senhora comprometida e um jovem de quem pouco ou quase nada é conhecido. O referido foco político e cultural da narrativa é um dos pontos de maior interesse da obra, trazendo à baila uma exactidão histórica bem estruturada que denota também um grande conhecimento literário por parte do autor.

Um romance apaixonado e clássico com uma boa dose moderna onde a política e as artes se unem numa cidade e ambiente acolhedores, onde existe ao mesmo tempo um grande sentimento de liberdade e pertença a um lugar imaginário que poderia ser real.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

«Kick-Ass - O Novo Super-Herói»


Um geek de óculos e devorador de BDs tem por sonho tornar-se num novo super-herói para conquistar assim o respeito de todos e o amor das mulheres. Próximo passo: encomendar um fato ridículo de mergulhador ou algo que o valha e algo para tapar a cara para ir para a rua combater o crime. Primeiro round: um enxerto de porrada e uma facada no estômago. As coisas não correram muito bem, daí que à segunda correrá melhor, ou menos pior, claro. 

Esta é a nova vida de Dave Lizewski (Aaron Johnson), um zé ninguém cuja vida não lhe corre nada bem. Do outro lado está Damon Macready (Nicolas Cage), um ex-polícia que perdeu a esposa e foi tramado pelo barão da droga Frank D'Amico (Mark Strong), que tem agora que tomar conta da filha de dez anos. Educar uma criança não é tarefa fácil: devemos oferecer-lhe amor, carinho, dedicação, brinquedos e certificar-nos de que ela crescerá num ambiente saudável e pacífico. Podemos também fazer como Damon e criar uma máquina assassina perfeita, podemos também igualmente (porque não?) fazer uma dupla de super-heróis pai/filha. 

Pelo meio, Dave tem que conquistar o amor de Katie (Lyndsy Fonseca), uma das raparigas mais giras do liceu, mas as coisas não correm mesmo nada de feição ao protagonista: há um rumor de que ele é homossexual. O melhor, portanto, será fazer proezas a combater o crime e colocar vídeos dessas façanhas no You Tube. Uma vez mundialmente conhecido, Dave tem motivos de sobra para arranjar forma de ser espancado, mas à última da hora lá aparecem Hit Girl (Chloe Moretz) e Big Daddy para salvar a situação, pois claro. Kick-Ass - O Novo Super-Herói é uma comédia divertida e moderadamente original que explora o lado menos bom dos super-heróis, utilizando algum humor negro para amenizar momentos dolorosos dos que fazem justiça pelas próprias mãos. 

Ao contrário de algumas tentativas falhadas que tentam abordar este lado mais realista dos heróis, como por exemplo Super, esta adaptação da banda-desenhada de Mike Millar é capaz de evitar de levar ao extremo os momentos de fúria por conta própria das personagens heroínas, ainda que inclua também situações fortuitas e inverosímeis – e isso tinha que estar presente, obviamente. Kick-Ass é um falhado e franzino super-herói salvo por uma menina de dez anos que sabe brincar às pistolas como um adulto. De facto, Chloe Moretz torna-se quase na personagem central deste filme, emprestando uma boa maturidade ao papel de Hit Girl.

Enfim, não sendo um filme estrondoso e obrigatório, este Kick-Ass - O Novo Super-Herói é um poço de boa disposição e entretenimento – e uma oportunidade única para Nicolas Cage esquecer a anedota de filme que Ghost Rider é.

Título original: Kick-Ass
Argumento: Jane Goldman, Matthew Vaughn, Mark Millar
Realização: Matthew Vaughn

sábado, 16 de junho de 2012

António Lobo Antunes «D'este Viver Aqui Neste Papel Descripto – Cartas de Guerra»


Esta é uma das raras oportunidades que o leitor tem de ficar a saber a vida privada de António Lobo Antunes. Esta compilação de cartas que o autor escreveu à sua esposa enquanto esteve na Guerra Colonial, é uma porta para conhecermos o lado mais apaixonado e carinhoso de um dos grandes escritores da actualidade.

As cartas espelham a miséria e horrores de um jovem que não assistiu ao nascimento da sua primeira filha e que pouco tempo teve para estar a sua esposa após o casamento. Sonhador e irreverente, Lobo Antunes nunca quis ir para a guerra, jamais pediu para viajar para Angola e estar só, rodeado de morte e fome. As cartas revelam um ser humano de uma capacidade única para ultrapassar o sofrimento de um pai e marido ausente, um homem que escreveu um romance num regime de incerteza em relação ao amanhã. 

Um dos aspectos mais interessantes nesta obra é o António Lobo Antunes que redigiu o seu primeiro romance por volta de 1972, intitulado Voo – Crónica da Morte Portuguesa, um livro que incidia sobre Portugal e a sua sociedade, temática amplamente explorada na sua vasta obra. Depressivo, mas com uma grande capacidade de sofrimento, este autor viveu quase exclusivamente da força que a sua primeira esposa lhe deu, constantemente apaixonado e grato pelo casamento. Não raras vezes encontramos o autor a ler e a criticar romances e escritores, ficamos também a saber que os escritores latino-americanos, como é o caso de Gabriel García Márquez, eram naquela época os maiores, sem descurar a importância de Louis-Ferdinand Céline, entre outros pertencentes a um lote restrito. 

O leitor sentir-se-á quase sempre intrometido na vida privada do autor, um sentimento de intromissão; certamente que partilhará a angústia e tristeza de quem se viu privado do nascimento da sua primeira filha e que resistiu ao desgaste de uma guerra. A progressão emocionante da narrativa confere a estas cartas de guerra uma costela de romance.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Miguel Gonçalves Mendes «José e Pilar – Conversas Inéditas»


Durante quatro anos, o realizador de cinema Miguel Gonçalves Mendes conviveu com José Saramago e Pilar del Río na residência de ambos em Lanzarote, Espanha. Em 2010 estreou em Portugal o filme documentário José e Pilar, no final do ano passado a Quetzal publicou estas conversas que funcionam como um complemento à película.

Centenas de horas de conversas com um dos casais mais simpáticos e populares da literatura, dispostas por cerca de duzentas páginas e que incidem sobre os tópicos das letras, da obra de Saramago e das suas viagens à volta do mundo, das posições firmes na área da política e também da vida pessoal do casal. Os mais familiarizados com a obra do Nobel 1998 não estranharão certamente a maioria das suas intervenções, pois neste livro o autor de Memorial do Convento inclina-se sempre para a direcção que o seu vento soprou. Saramago aproveita também para esclarecer a questão do despedimento de jornalistas no Diário de Notícias.

Curiosamente, as entrevistas com Pilar são o ponto mais atractivo desta obra. Sempre em castelhano – e aqui a Quetzal arriscou um pouco nesta aposta – e sem tradução, a espanhola natural de Granada impõe-se de forma clara e extremamente frontal, aproveitando mais que uma vez para explicar que o descanso é importante e que será eterno após a morte, daí que há que viver o momento como se não houvesse amanhã. O processo de tradução dos livros de Saramago para a língua espanhola é aqui explicado, e Pilar assegura que não interfere de forma alguma com o decorrer da escrita e das ideias do marido. 

O ponto mais frágil destas duzentas páginas reside no próprio Miguel Gonçalves Mendes, que mostra algum receio nas questões que coloca; de facto, creio que o entrevistador poderia por vezes impor um pouco mais as suas ideias e tomar a rédea da entrevista; fica a sensação de que por vezes os entrevistados passam a conduzir o ritmo da conversa, encurtando o espaço e tempo das questões do locutor.

José e Pilar – Conversas Inéditas apresenta o lado de Pilar del Río que era relativamente desconhecido do grande público, confirmando que a mesmo foi mesmo muito mais que a mera “esposa de Saramago”.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ricardo João Pedro «O Teu Rosto Será o Último»


Tendo como referência o período da Revolução dos Cravos, este romance desvia-se irremediavelmente na triste vida da família Mendes e do calvário que a ditadura e o golpe militar lhe infligiu. Duarte, a personagem principal, é uma das muitas crianças que nasceram durante a guerra colonial do ultramar.

A obra é-nos contada em sete partes divididas por vários capítulos curtos, aparentemente concisos e interligados, mas autónomos entre si. A narrativa orienta-se em volta dos passos de Duarte Mendes, ainda que por vezes haja capítulos dedicados ao pai e avó, por quem a personagem principal sente especial carinho. Todas estas personagens estão intimamente ligadas ao 25 de Abril: o antes e o após; um depois que se verifica não ter mudado muito na mentalidade e organização da vida portuguesa. Até aqui, tudo parece estar em conformidade para tornar este romance num bom livro.

Vencedor do Prémio LeYa 2011, concurso prestigiadíssimo de Literatura, o jovem autor Ricardo João Pedro promete ao leitor uma obra fascinante com uma estrutura exemplar. A escrita é marcada pelo excesso de palavrões, pelas vírgulas abusivas e por uma frieza e quasi-objectividade que acaba por tornar a leitura aborrecida, previsível, pré-fabricada. Os palavrões funcionam bem tanto num livro como no quotidiano quando bem empregues, tudo na vida tem hora e lugar; no entanto, se a verborreia é feita a torto e a direito e sem pedir licença, certamente que cairá no ridículo. Veja-se o caso exemplar de Irvine Welsh: as personagens de Leith até que violam os bons costumes britânicos com frequência, mas o autor escocês faz questão de lhes emprestar a sujidade linguística nos momentos acertados. Aqui, numa «aldeia com nome de mamífero», não só as personagens mas também o narrador se perdem em discursos desconexos e listagens de impropérios.

As vírgulas e os pontos matam por completo a acção. Ao tentar tornar a sua escrita sóbria e aproximando-se em demasia no choque e tragédia, o autor pausa em excesso o nível da aparente calma, assassinando assim a narrativa. Outro dos aspectos negativos e mal trabalhados é a repetição dos termos: «Embrulhado (…) numa camisola de lã, num casaco de lã, num sobretudo de lã, num cachecol de lã, num par de luvas de lã, num gorro de lã (…).».

A estória, essa, inicialmente prometida a algo grande em torno do 25 de Abril, rapidamente se perde numa novela televisiva portuguesa, enfadonha, repetitiva e tristemente previsível. Duarte entra num consultório e o médico faz-lhe as habituais perguntas sobre os seus hábitos alimentares, se fuma, se bebe e… acaba por também lhe perguntar pela preferência futebolística. A referência ao futebol é tanta que Ricardo João Pedro tenta mesmo igualar a estética do mítico comentador Gabriel Alves: «Até que o Van Basten, do bico da pequena área, a cruzamento de Mühren, remata de primeira, e a bola, numa trajectória improvável – que, como o filho, perspicazmente, observou, não era compatível com a velocidade do remate e das duas uma: ou, por breves momentos, a força gravítica exercida pela Terra aumentara, ou então o fenómeno não podia ser descrito pelas três leis fundamentais de Newton e tinha de ser entendido à luz da mecânica quântica -, passa por cima de Sasayev e entra na baliza.».

«Duarte não se mexeu, nem quando o Índio soltou um breve gemido e dois esguichos de esperma se ergueram no ar. O primeiro caiu sobre a alcatifa. O segundo, sobre o sofá. Algumas gotas caíram, ainda, sobre as folhas que haveriam de ficar para sempre em branco.». Isto acontece numa das vezes que Duarte leva a casa um amigo para lhe tocar Beethoven no piano. A acção tem tragicamente mais peripécias desconexas e estéreis como esta. O autor, licenciado em Engenharia Electrotécnica e um homem da Matemática, dá explicações pertinentes e em tudo indispensáveis. «Por isso, durante os onze dias, fumou, no máximo, oito cigarros. Ou talvez até nem tenha fumado nenhum, depende. No maço, sobraram doze cigarros. Vinte menos doze: oito. O que quer dizer que, naqueles onze dias, houve, pelo menos, três em que não fumou um único cigarro. E tinha-os ali à mão de semear, o que não deixa de ser relevante. Vinte menos doze: oito. As contas eram fáceis de fazer. E foram feitas.». Certo.

Aquando da recente apresentação de Caligrafia dos Sonhos do espanhol Juan Marsé, António Lobo Antunes desabafou que estava nas mãos dos grandes grupos editoriais para quem só o dinheiro e as vendas contam - «Olhem à vossa volta, se houver cinco livros bons na livraria já não é mau. Esta é a verdade». O Teu Rosto Será o Último não é um livro mediano, muito longe disso. É francamente péssimo em todos os aspectos.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Philip Roth vence Prémio Príncipe das Astúrias


O escritor norte-americano Philip Roth é o vencedor do prestigiado Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2012. Roth, nascido em 1933 em Newark, e autor dos prestigiados romances Pastoral Americana e O Complexo de Portnoy, venceu devido a uma «qualidade literária que se manifesta numa escrita fluida e incisiva», entre outros factores.


terça-feira, 5 de junho de 2012

«Moneyball - Jogada de Risco»


Um grande orçamento nem sempre é significado de vitória, ou muito menos de vitória fácil. Na maioria das vezes, as equipas com um maior nível de dinheiro para gastar conseguem contratar os melhores jogadores e técnicos, rentabilizando o investimento feito pois o retorno é sempre substancial. Aconteceu assim no mundo desportivo com os Minnesota Twins de 1987, com a Dinamarca 1992, com a Grécia de 2004, com os Chicago Bulls de 1991, com os Detroid Pistons de 2004, entre outros.

Este filme, baseado no livro Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game de Michael Lewis, é sobre o mundo do beisebol (“baseball” soa melhor) e retrata a história de Billy Beane (Brad Pitt), uma jovem promessa do início dos anos 80 mas que nunca correspondeu às expectativas e que terminou a carreira nos Oakland Athletics. Os A’s, como são conhecidos, equipa criada em Filadélfia – foram primariamente os Philadelphia Athletics -, são uma equipa com poucos títulos na Major League Baseball que tem como Director Geral Beane desde 1998 e que em 2001, ano em que perderam jogadores-chave para os tubarões da Liga. Billy Beane é visto hoje como um homem revolucionário do desporto norte-americano graças ao que alcançou com esta equipa.

Beane recruta para seu braço direito Peter Brand (Jonah Hill), um assistente que se baseia em estatísticas aos Cleveland Indians, e ainda que inicialmente fosse complicado explicar à direcção que o jovem Brand, de 25 anos, iria ser influente na reestruturação da equipa, o sucesso chega a Oakland. A grande mudança passa essencialmente por recrutar jogadores com pouca influência, jogadores que praticamente têm as suas carreiras arrumadas, e também contempla o despedimento de alguns jogadores com muitos anos de serviço.

O objectivo de Brad Pitt é apenas um: vencer o campeonato. Esta tarefa é virtualmente impossível, tendo em conta o reduzido orçamento e a dimensão dos A’s no beisebol, mas nada é impossível. Pitt e Jonah atingem nesta película prestações adequadas às personagens que interpretam, representam muito bem a pressão e o clima louco que é fazer parte de uma equipa profissional de um desporto com a grande dimensão que o beisebol tem na América do Norte, mas o mesmo não se pode dizer dos actores que interpretam os jogadores. As cenas onde se desenrolam jogam raramente apresentam os jogadores a jogarem verdadeiramente e, em vez disso, são-nos apresentados ângulos alargados e distantes do relvado com ocasionais lançamentos/tacadas junto à base. É este o grande defeito deste filme.

O filme ganha outra dinâmica com a filha de Beane, que ensina ao pai, através de uma canção acompanhada por guitarra, que vencer não é importante, somos todos perdedores, por isso mais vale desfrutar do espectáculo. Moneyball - Jogada de Risco é um agradável exercício de determinação desportiva, mais entusiasmante que Jerry Maguire, por exemplo.

Título original: Moneyball
Argumento: Steven Zaillian, Aaron Sorkin, Michael Lewis
Realização: Bennett Miller

«Invisible Monsters» revisitado


Depois de ter publicado Invisible Monsters em 1999, o escritor norte-americano Chuck Palahniuk prepara-se para publicar o romance com algumas novidades em relação à primeira edição.  

Invisible Monsters - Monstros Invisíveis, Casa das Letras - fora a única obra do vasto catálogo de Palahniuk que não teve edição em formato de capa dura, situação que se inverte agora esta situação e ainda lhe acrescenta um design diferente mais apelativo. Este "remix" resulta da vontade de o autor ver publicado o livro da forma como inicialmente o concebeu, com mais parágrafos e com mais pormenores interessantes. 

O lançamento no Reino Unido está agendado para o dia 7 deste mês e a norte-americana sai uns dias mais tarde, dia 11.

domingo, 3 de junho de 2012

Charles Baudelaire «Le Spleen de Paris»


Se andássemos sempre ébrios, não seria assim tão mau, segundo o lema e um dos poemas de Charles Baudelaire: bêbados de poesia, de vinho, de virtude, mas todos bem alegres de espírito. Urge estar em contacto com o vento, com os pássaros e com as estrelas e deixar fruir a poesia com estes. 

Nascido em Paris num dos ventres da Poesia, a França de Henry Michaux, Arthur Rimbaud, Guillaume Apollinaire, etcétera, etcétera, Baudelaire dedicou uma vida de amor incondicional às letras e à inovação de uma poesia que o próprio acreditou precisar de alterações, daí que seja visto como um dos mais importantes poetas da corrente modernista e simbolista. 

Escrito em prosa poética, Le Spleen de Paris resulta de uma compilação de vários poemas publicados entre 1855 e 1867 e aborda algumas temáticas sociais, literárias e a busca pelo prazer. Charles Baudelaire, ele mesmo um espírito livre que só se satisfaz através da criação poética, faz algumas viagens interessantes e constrói poemas interessantes e empolgantes, mas a maioria dos textos não desperta emoções, deslumbres fortes, como seria de esperar.

O primeiro contacto com este autor não foi o mais empolgante, por assim dizer, daí que se esperem melhores sensações com As Flores do Mal.