terça-feira, 20 de março de 2012

Rotten Sound «Cursed»


Em quase mais de trinta anos de existência, o movimento grindcore sofreu várias alterações, muitas mutações, mas creio as bandas que colhem mais simpatia por parte dos aficionados do género têm estado à altura do desafio. Se, por exemplo, os Extreme Noise Terror andaram perdidos em experiências menos bem conseguidas com o death metal, os Napalm Death entraram em modo experimental já desde os tempos de Fear, Emptiness, Despair e várias bandas refrescantes surgiram nos últimos tempos a misturar o grindcore com outros sub-géneros musicais. Exemplos crassos de Converge, Trap Them, Dillinger Escape Plan e Soilent Green.

Os finlandeses Rotten Sound contam já com seis álbuns de estúdio, inúmeros EPs e muita experiência acumulada ao longo de quase vinte anos de existência, experiência esta que lhes permite continuar a gravar discos com diferenças musicais que vão para além do subtil. Tal como os suecos Nasum, este grupo sabe misturar o mais extremo blast beat com o solo mais metal e a quebra de ritmo acentuada, com muito groove, caminhando por caminhos pouco ortodoxos no género que ficou popular por temas com o máximo de duração de 30 segundos. Um bom disco desta natureza só pode ficar 100% audível com um baterista capaz de aguentar a adrenalina e a dinâmica que lhe são exigidas, e neste capítulo Sami Latva, que já tinha gravado Cycles em 2006, é um profissional à altura do cargo. Instrumentalmente, estes quatro músicos são capazes de criar estruturas ligeiramente mais trabalhadas, ainda que o baixo de distorção máxima por vezes camufle um pouco a guitarra, mas nada de mais ou sequer artificial.

Contando com a presença de convidados especiais de Entombed, Misery Index, Aborted, entre outros, Cursed tem bastantes semelhanças com o anterior Cycles na estrutura e na interpretação do grindcore frenético em temas como Self, Green, Alone e Machinery, mas também os há os solos de guitarra – com destaque para o de Hollow –, alguns riffs vincadamente death metal e temas com uma abordagem bem mais lenta, praticamente sludge, que emprestam variedade ao disco. Apesar de alguns contastes existentes entre temas, o som dos Rotten Sound acaba por se tornar homogéneo no global e tocam até temas que mesclam o groove com o blast beat desenfreado, como se pode escutar em Exploit

Distante dos tempos do gore e do humor negro de Psychotic Veterinarian, os alvos das letras de Keijo Niinimaa são os políticos, o consumismo e todo o sistema global de capitais visados em Choose («Every transaction makes you closer to a nirvana of self consumption»), Hollow («You keep yourselves busy by serving your masters, slaves of society, ignoring reality») ou Green («Fake ecology by green economy, everything is made of recycled materials to be consumed again in the future»). Realce-se que os temas do disco têm apenas uma palavra no título; iniciando-se em Alone e terminando com Doomed, este Cursed é puro “food for thought”.

Com este registo, não é de estranhar que os finlandeses assumam cada vez mais protagonismo na elite do grindcore, provando que é no norte da Europa que despontam as maiores bandas. A participação de Keijo Niinimaa no lugar do ícone Mieszko Talarczyk, na última tour dos Nasum marcada para este 2012, dissipa qualquer dúvida em relação ao talento destes músicos.

8.5/10

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