sábado, 4 de fevereiro de 2012

Manuel Manzano «O Capitão das Sardinhas»


«A inquietante, sumptuosa, hilariante, espectacular, erótica, violenta, sombria, escatológica, romântica, passional, inigualável, fabulosa, épica e deslumbrante aventura do primeiro serial-killer cego da história da humanidade» é a proposta hilariante de Manuel Manzano, um autor espanhol que a própria Vanity Fair descreve da seguinte forma: «Bolaño + Stieg Larsson = Manuel Manzano.»

O rol de comentários, alfinetadas e elogios continua: «Jamais pensei que a escrita policial pudesse chegar a este nível de falta de qualidade.», Agatha Christie (às voltas no seu túmulo); «Uma fantochada.», Hannibal Lecter; «Holmes disse-me que este livro nem sequer é elementar.», Watson; «Não me ria tanto desde que tentei ler um ralador por engano.» Jorge Luis Borges; «É tudo tão mais fácil no século XXI.», Jack, o Estripador; «Ri-me como um perdido.», Mr. Ripley. É óbvio que estes testemunhos que aparecem na capa e contra-capa de O Capitão das Sardinhas são falsos – a piada sobre Borges (um mestre da escrita que ficou cego), fez-me soltar uma longa gargalhada… seguida de um frio na espinha.

A literatura nem sempre tem que ser séria e os autores também não têm a obrigação ou o dever de se debater com existencialismo, pós-modernismo, transgressão e outras temáticas que os grandes romancistas vêm utilizando ao longo da história do romance. De vez em quando, faz falta ler um livro cómico e extremamente ridículo como este policial de Manuel Manzano. É que rir faz bem à saúde, de modo que a gargalhada constante que acompanha as linhas deste registo podem aumentar a esperança de vida de quem as lê.

Gabriel Saviela, cego e diabético, acorda um dia revoltado e decide matar a sua mãe, o chiuaua, o papagaio obeso e dois vizinhos. Manuel Bun é um sonhador hipocondríaco e bastante deprimido que vê a sua relação com a esbelta Emma acabar - decide, após o não da ex-namorada, que para a reconquistar terá que alcançar algo de grandioso, como ir a Roma e atirar umas pedradas no Papa; a dupla de detectives da Polícia Boris Beria Fuensanta e Nicodemo tem a difícil tarefa de parar os assassínios sangrentos de Gabriel. Escrito para uma faixa etária que, estipulo, vai desde a juvenil à adulta, este “policial” tem os seus clichés, é certo, mas tem uma argumentação sustentada num misto de ciência e sabedoria popular, a qual imprime um ritmo sarcástico e acelerado típico dos autores de língua espanhola. A brincar que a falsa descrição da Vanity Fair o diga, há mesmo algo de Bolaño neste autor.

Recomendadíssimo para todos os amantes de literatura descontraída e que gostem de se rir alto e a bom som, aprovadíssimo pelo Zé Povinho, O Capitão das Sardinhas é mesmo um dos livros mais interessantes e cáusticos que me passaram pelas mãos no passado recente.

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