sábado, 21 de janeiro de 2012

Lev Tolstoy «A Sonata de Kreutzer»


«Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher, para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.»
(Mateus, 5:28)

Depois de uma vida de excessos na juventude e de uma vida extremamente confortável adequada ao seu título nobre de Conde, Lev Tolstoy envergou pelo caminho da espiritualidade cristã e trocou a cidade pela vida rural, a vida do homem puro em contacto com a natureza. A Sonata de Kreutzer - uma das novelas mais conceituadas da literatura - é um importante relato dos pensamentos da corrente tolstoyana sobre a sociedade russa e os seus incorrectos e imorais modos de vida, segundo o autor.

Numa viagem de comboio, cruzam-se o narrador e um homem vivido que conta a história da sua vida a um narrador que escuta e pouco fala. Este homem experiente, Pózdnichev, que assassinou a sua esposa devido a traição matrimonial, relembra todos os seus excessos devassos que cometeu enquanto jovem, tal como a ida a casas de prostitutas e a procura da esposa certa. Escolheu casar com uma mulher pobre e bela que, segundo ele, lhe proporcionava a paz e a moral necessária para um homem da alta classe social; no entanto, cedo se apercebeu que as mulheres que tão bem se vestem, usam o corpo e a arte da sedução para levar o homem a cometer o pecado carnal.

Extremamente triste e a espaços arrependido do crime que cometeu, Pózdnichev acaba por se tornar na voz do próprio Tolstoy, enfrentando os horrores de uma vida impura que levou, até à altura em que decidiu mudar e adoptar o cristianismo extremo, na minha opinião; não poucas são as incursões sobre o celibato como forma de tornar o Homem num ser limpo, num ser em comunhão com Deus. A escrita que Tolstoy utiliza neste livro inspirado na famosa sonata de Beethoven, é absolutamente forte e disciplinada, realista e crua, fazendo das palavras fortes argumentos de persuasão na absorção da concentração de quem a lê; é, acima de tudo, honesta e extremamente bem elaborada, como é apanágio da obra tolstoyana.

Um homem livre do sexo e das relações “suínas” que contrai com as mulheres é a base deste relato de uma Rússia decadente em finais do séx. XIX. Não pondo em causa a ideologia de Tolstoy e a forma corajosa como este lutou por um mundo melhor e mais correcto do ponto de vista da moral, não posso no entanto deixar de contrariar o autor e de referir que o amor e as relações entre as pessoas são obviamente importantes para realização pessoal e social de cada um de nós.

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