sábado, 14 de maio de 2011

Sunn O))) «Monoliths & Dimensions»


Há bandas que são excepcionalmente difíceis de catalogar, únicas naquilo que fazem. Os Sunn O))), constituídos por apenas Stephen O'Malley e Greg Anderson, são um dos fenómenos musicais dos últimos dez anos mais bem sucedidos do “underground” e de música como forma de arte. Fenómeno porque conseguem fazer esgotar todos os concertos que dão e, ao mesmo tempo, vendem uma boa quantidade de discos – as edições em vinil esgotam com muita facilidade. Tenho noção do atrevimento que tenho ao associar arte com bandas que aprecio, mas é com convicção que insiro estes norte-americanos na categoria artística.

De facto, o duo norte-americano aparece constantemente ligado ao movimento heavy metal, mais concretamente ao doom metal. Creio que, no entanto, é demasiado ousado e discutível fazer uma associação directa ao doom metal, não obstante a existência de algumas ramificações deste género que ecoam nas longas músicas de primeiro álbum ØØ Void até ao último split Che. “Drone” (tradução literal: “zangão”, “zumbir”), assim é a palavra que me aparece sempre que pesquiso pela sonoridade desta e de outras bandas que praticam este tipo de sonoridade absolutamente obscura, sufocante, niilista e, a espaços, bela. Muito bela. O disco de 2006, Altar, que resulta de uma colaboração com os japoneses Boris, possui um dos temas mais lindos que ouvi até hoje e que mais me corta a respiração: The Sinking Belle. Este tema, cantado por Jesse Sykes (vocalista dos Jesse Sykes & The Sweet Hereafter), abordou uma melodia e uma vertente musical que, confesso, não esperava encontrar num disco de Sunn O))).

Monoliths & Dimensions segue um pouco a linha explorada em Altar, mas investe fortemente nos alicerces daquela que é considera a obra-prima do grupo, Black One. Os longos “riffs” de guitarras genuinamente distorcidas e sujas, aquele ambiente de “cortar à faca” típico dos grandes filmes de terror dos anos 60 e 70 e aquela escuridão e nevoeiro da cidade de Silent Hill são acompanhados pela torturadora e sinistra voz de Attila Csihar (vocalista dos Mayhem), num inglês que não soa a inglês, mas a algo cantado num idioma ligado aos Montes Cárpatos e todo o misticismo vampírico que envolve esta região do centro/leste europeu. Csihar empresta a voz em três das quatro faixas, repartidas por cinquenta e quatro minutos, onde é acompanhado pelo multi-instrumentista Eyvind Kang (que já colaborou com Mr. Bungle), Dylan Carlson (mentor dos Earth, banda por onde passou Kurt Cobain), Oren Ambarchi no gongo, Julian Priester e Stuart Dempster nos trombones, entre outros artistas de gabarito. 

Os instrumentos de sopro de Alice, a percussão de Aghartha, os coros ritualistas presentes em Big Church (Megszentségteleníthetetlenségeskedéseitekért) e aqueles acordes distorcidos de Hunting & Gathering (Cydonia) tornam Monoliths & Dimensions numa experiência única, sem no entanto ser capaz de agradar a gregos e a troianos. Muito pelo contrário: o som acaba por ser fiel àquilo que a banda nos tem vindo a oferecer de disco para disco e a probabilidade de captarem a atenção de novos fãs, especialmente os que estão “desligados” em relação a este tipo de som catártico.

O disco, numa analogia cinematográfica, varia entre o cine noir de Hitchcock e Crepúsculo dos Deuses, o suspense neorótico de Shining, a simbologia de O Sétimo Selo de Ingmar Bergman, a insanidade de Martin Sheen a subir o rio para confrontar Marlon Brando em Apocalypse Now e a luz e beleza da sonoridade de 2001: Odisseia no Espaço.

8.5/10

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