sexta-feira, 27 de maio de 2011

«Revolutionary Road»


Situado na década de 50 durante o “boom” da economia norte-americana, Revolutionary Road aborda a vida de aparências e a infelicidade, tema que Sam Mendes já nos tinha oferecido em Beleza Americana. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, velhos conhecidos de Titatic, reencontram-se novamente nos papéis de Frank e April Wheeler, um jovem casal na casa dos 30 que vive num típico bairro da classe burguesa nos subúrbios de Connecticut.

Mendes teve o cuidado de retratar a sociedade da época de forma bastante fiel, não apenas nas roupas, decoração e veículos, mas principalmente a forma como as relações sociais e conjugais se desenrolavam. Frank é um jovem que trabalha dez horas por dia no departamento de marketing numa empresa de comunicações - a mesma que o seu pai trabalhou arduamente durante vários anos – e April é uma mera dona de casa obediente com dois filhos para criar. Apesar da excitação dos primeiros anos de casados e de não faltar riqueza material nas suas vidas, ambos são infelizes nas suas vidas: April sente-se miserável por passar o dia em casa a tratar da casa e Frank vive para um emprego que odeia e onde não se sente valorizado.

Tudo pode mudar no dia em que April sugere a Frank a ideia de se mudarem para Paris e começarem novamente do zero numa cidade cheia de vida. Este rumo parece agradar bastante a Frank, pois é a oportunidade para ele explorar e descobrir exactamente o que quer fazer com a sua vida, enquanto que para April é tudo o que ela sempre desejou: ser independente e ter o seu próprio emprego. Esta mudança estimula bastante Frank, mas o facto de poder passar a ser sustentado pela esposa é algo que estupifica os seus amigos e coloca algumas dúvidas a ele mesmo. Com efeito, e não obstante Frank adorar a ideia, o facto de deixar de ser ele o único “ganha pão” da família assusta-o, como se fosse perder a autoridade familiar e respeito social.

O filme foca-se na infelicidade das vidas de aparências tipicamente norte-americanas, no vazio sem esperança. Contrastando com algumas cenas de aparente alegria estampada nos rostos do casal, a complexidade dramática dos diálogos e das cenas onde existe confronto de ideias transmitem uma tensão enorme, desde o início até ao fim. As discussões e berros dos Wheeler trazem ao de cima sentimentos que não esperamos encontrar, tal é a calma presente no filme, tal é a repetição do mesmo cenário central, a casa e o final de tarde melancólico. 

Sam Mendes foi capaz de realizar mais um filme dentro da temática onde ele é rei e senhor, recheada de pequenos elementos que passam despercebidos à primeira visualização em casa e muito certamente num cinema cheio de gente a ruminar pipocas com afinco à espera de cenas íntimas que não surgem nunca. Não deixando de lhe tirar o chapéu, fica a ideia de que Mendes podia ter explorado melhor o emprego de Frank através de cenas mais intensas - aquelas que acontecem na casa dos Wheeler. O final, esse, é do mais simbólico e belo que se pode contemplar na sétima arte.

Realização: Samuel Mendes
Argumento: Justin Haythe (baseado num romance de Richard Yates)
Produção: DreamWorks SKG, BBC Films, Evamere Entertainment, Neal Street Productions e Goldcrest Pictures

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